Mesmo quando não parece, a arte é uma forma de posicionamento político. Todos os nossos atos são uma maneira de interagir com a realidade que nos cerca. Maike Moreira, de Rondonópolis, MT, cidade cujo nome homenageia o célebre Marechal, dá um exemplo de uma ação artística engajada que lança um importante alerta.
Para fazer uma obra, recolheu parte da casa de cupim que encontrou na estrada e pedaços e estilhaços de tijolos, da estrutura da parede e de telhas da chamada “Fazenda Velha”, casa que hospedou o engenheiro militar e sertanista Marechal Rondon (1865 – 1958), quando ali esteve para explorar a região e construir a linha telegráfica local.
O artista triturou esses materiais até virarem pó e os misturou com aglutinante para produzir uma espécie de tinta “natural” dos restos do casarão. Com ela, realizou a obra de arte “Borória: A Fazenda Velha de Rondonópolis”. O objetivo é chamar atenção para que o histórico local seja preservado.
Embora a liberação de tombamento de patrimônio histórico esteja em andamento, enquanto não ocorre o aval do governo municipal, o local corre sérios riscos de ruir devido aos tremores causados pelas máquinas que transitam pela região para trabalhar na avenida W11, que fará a ligação à BR-364, rodovia diagonal que liga Limeira, SP a Mâncio Lima, AC.
Perante a estrutura fragilizada da Fazenda Velha, com as rachaduras nas paredes e exposição ao sol e à chuva pela ausência do telhado, a arte lança seu clamor. A obra de Maike Moreira traz o Marechal, a casa ameaçada e um representante indígena Bororo como tripé de uma história que pode ser perdida, mas que a arte, feita a partir de fragmentos, valoriza e recupera.
Oscar D’Ambrosio