As jabuticabeiras já inspiraram diversos artistas contemporâneos. Regina Puccinelli, de Taubaté, SP, por exemplo, fez duas elas inspiradas no livro “Pau Brasil” (1925), de Oswald de Andrade, onde as árvores são citadas no poema “a transação”, que ilustra a ascensão dos latifundiários paulistas plantadores de café:
O fazendeiro criara filhos Escravos escravas Nos terreiros de pitangas e jabuticabas Mas um dia trocou O ouro da carne preta e musculosa As gabirobas e os coqueiros Os monjolos e os bois Por terras imaginárias Onde nasceria a lavoura verde do café
Ao ver as telas, uma amiga da artista plástica disse que os trabalhos a fizeram lembrar da casa de sua avó. Daí surgiu a pintura que acompanha este post (“Casa da Vó”), em que se destacam as jabuticabas grudadas nos troncos e toda a mecânica familiar da colheita, com as frutas levadas em recipientes e a vó sentada em sua cadeira de balanço.
Assim, o cotidiano ganha dimensão artística retratando um momento em que o tempo parece parar em uma imersão de felicidade e delicadeza. A arte atinge dessa forma uma de suas mais delicadas dimensões: a de despertar o melhor que existe em cada um, seja por memórias afetivas reais, imaginárias ou desejadas.
Oscar D’Ambrosio