textos

diárias de bordo

Homenagem em pílula: Mirthes Bernardes

Homenagem em pílula: Mirthes Bernardes
20/12/2020

Falecida em 18 de dezembro último, a artista visual Mirthes Bernardes tinha uma forte ligação com árvores. Tinha fascinação pelo tema desde criança e via nelas, com a sua constituição em partes, como raízes, tronco, galhos, folhas, flores e frutos, como uma metáfora de trajetórias existenciais e de elevação pessoal e espiritual.

Uma das principais expoentes nacionais da arte de esmaltar sobre placas de cobre, a artista tem, como obra mais conhecida, mas poucas vezes creditada adequadamente, o calçamento padronizado da cidade de São Paulo, representado pela estilização do mapa estadual e escolhido para integrar a paisagem citadina por meio de concurso público. Com ampla experiência na tapeçaria, escultura, desenho e pintura, Mirthes encontrou, no esmalte, um universo de possibilidades e, nas paisagens, com árvores como protagonistas, a sua linguagem poética. Estabeleceu, assim, atmosferas de encantamento em que as composições, com céus ao fundo, geram universos visuais que cativam o observador. Arte que encontra antecedentes há mais de 3 mil anos, no Antigo Egito, a aplicação do esmalte sobre metais e outros materiais chegou ao Brasil em meados do século XX, trazida por imigrantes franceses e alemães. Para Mirthes, essa linguagem funcionou como um campo de pesquisa de cores, formas e sensibilidades. Integrante do Nubrae (Núcleo Brasileiro da Arte do Esmalte) e com obras em países como França, Suíça, Estados Unidos e Alemanha, a artista oferece, com suas paisagens, uma criação de portais que possibilita a passagem para um mundo em que expressivas árvores, com todo seu simbolismo, e cores, cuidadosamente desenvolvidas, se integram e fascinam. A sua partida deixa em todos nós a marca de uma bela árvore frondosa a nos tornar pessoas melhores.

Oscar D’Ambrosio