Um cão pode correr atrás do próprio rabo por diversas razões, como a tentativa de se livrar de pulgas ou carrapatos. A imagem ganha novas conotações na esfera da arte. Wander Melo, em “Incômodo”, que acompanha este post, aponta para ricas dimensões simbólicas. O conceito de circularidade remete ao grego uróboro (“que consome a cauda”), representação que, desde o Egito Antigo, refere-se a uma serpente que morde a sua extremidade. Temos então uma evolução voltada para si mesmo, ligada aos conceitos de movimento, continuidade, autofecundação e eterno retorno. Trata-se de uma visão psicanalítica em que conhecer a si mesmo, no processo conhecido como individuação, coloca o círculo como índice de uma espiral de evolução, um movimento de morte para reconstrução. O “Incômodo” é essencial para que cada um de nós pense sobre si mesmo para atingir um novo plano. A imagem de Wander Melo nos faz pensar nisso tudo e, por isso, nos seduz.
Oscar D’Ambrosio