A arte do retrato é um universo à parte na pintura. Trata-se de uma sinfonia em que o artista se torna um demiurgo para conseguir captar, em uma representação visual, uma alma. Se concebermos o criar como uma interpretação do mundo, o retratar consiste na expressão de um aperfeiçoamento entre aquilo que se vê, se sente e se deseja transmitir.
O conjunto de obras “Retratos Preto sobre preto”, de Alexandre Ignácio Alves, é a manifestação dessas questões. As questões da raça e da cor surgem desde o título e é por meio das grisalhas que os efeitos são atingidos tanto nas pessoas como nos seus adornos. O branco, o negro e as tonalidades de cinza dialogam num entrega ao ato de fazer.
O que se vê não são pessoas. São imagens vestidas de humanidade. Elas têm dentro de si o fogo sagrado da arte. São representações que, por estarem em escala maior do que a real, convidam a uma reflexão, já que, internamente, mantém a coerência e ocupam o espaço com lirismo e delicadeza.
O artista dá aos seus retratos o status de poesia, com o fazer caminhando ao lado do sentir da vida. Essa associação permite que cada nova olhar ao trabalho descubra um detalhe. Assim, cada retrato pode ser, a cada instante, uma nova pessoa. Esse processo, plástico e técnico, dá à mortalidade da vida a imortalidade da arte.
Oscar D’Ambrosio