Publicado em 1963, por Hannah Arendt, o livro “Eichmann em Jerusalém” tem como subtítulo “Um relato sobre a banalidade do mal". Ela argumenta que a discussão do mal não deveria ser metafísica, mas sim política e histórica, pois ele é manifestado por seres humanos que encontram em espaços vazios de sentido da sociedade a possibilidade de tornar o mal trivial.
Acima de punir ou perdoar, a questão do mal estaria associada à compreensão do ocorrido para evitar a sua repetição no futuro. Nesse sentido, a série “Jogos de armar”, de José de Quadros, brasileiro radicado na Alemanha, cristaliza em imagens uma percepção crítica da violência no mundo.
O artista desenha diversos animais sobre páginas de uma coleção de jornais alemães de 1932 a 1944, periódicos que constroem uma representação do período nazista e que resistiram ao assassinato de seu primeiro dono e ainda a um posterior incêndio no ateliê de Quadros. São, portanto, documentos que resistiram historicamente ao mal
As notícias, ao serem o suporte das imagens do artista, ganham novo significado. Os desenhos junto ao dia a dia do jornal formam um conjunto que alerta como o mal pode se manifestar no cotidiano sem que seja percebido e como a arte, ao se inserir nesse devir histórico, estabelece um estranhamento que nos ajuda a refletir sobre a banalidade do mal e impedir que se repita.
Oscar D’Ambrosio