Oscar D'Ambrosio

Muitas vezes surgem indagações sobre qual é ou pode ser o ponto de partida da arte. Alguns acreditam que, de alguma forma, toda manifestação provém de algum elemento biográfico, enquanto outros relativizam esse aspecto, considerando as criações de maior qualidade aquelas que conseguem se libertar do individual para atingir a universalidade.

Como ensina a filosofia, o melhor caminho parece não estar radicalmente nem de um lado nem do outro. Paraense radicado em Manaus, AM, o pintor Prado (@pradoland1) nos dá um exemplo disso no quadro que ilustra este post. A história da obra se confunde com a forma que ele a representa, relacionando arte e vida.

Nascida em uma família pobre do interior do Maranhão, a avó de Prado, retratada na imagem, quando tinha seus 35 anos, sofreu um acidente automobilístico que resultou em numerosas sequelas, como a amputação de um braço e de uma perna. Em uma manhã, porém, o artista a viu descascando uma laranja. A cena resultou no quadro que vemos hoje.

Esta ali cristalizada a perseverança. O fato visto e vivido é universalizado na representação visual. O factual ganha dimensão artística pela capacidade emocional e técnica de tornar a experiência em depoimento visual. Formas, cores e pinceladas possibilitam experimentar  um momento que, se não fosse por Prado, seria esquecido e que, graças a ele, se eterniza.

Oscar D’Ambrosio