As obras de Cecília Menezes vêm progressivamente ganhando espaço como representações de um raciocínio em que a cerâmica torna-se um meio para trazer à tona importantes discussões, principalmente vinculadas ao universo feminino. É o que ocorre com a peça intitulada “A prometida".
Diversos elementos se somam no sentido de levar a múltiplos questionamentos que envolvem a cultura popular. O que mais chama a atenção nesta obra é a presença, pendurada no pescoço da imagem da moça, com seu rosto ingênuo e blusa decorada com flores, de uma imagem de Santo Antonio invertido.
Essa prática remete à tradição de jovens deixarem o ser divino nessa posição até serem atendidas em seu desejo de casamento. A peça é colocada em uma armação que remete às estruturas rígidas de madeira ou arame sobre as quais ficavam os vestidos. Presas à cintura, tolhiam a liberdade dos movimentos e se tornaram moda na Europa e, depois no Brasil.
Cecília Menezes comenta assim poeticamente a sexualidade da mulher desde a educação voltada para o casamento, que inclui chantagear o sagrado, até os cerceamentos exercidos pela roupa, marcando seu papel como ceramista progressivamente comprometida com a talentosa renovação de sua linguagem e de seus questionamentos visuais e de conteúdo.
Oscar D’Ambrosio