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Pílula visual: Capacidade de indagar

Pílula visual: Capacidade de indagar
05/12/2020

Albano Afonso (@ateliealbanoafonso) é um artista multifacetado. Uma das obras que faz, de certa maneira, uma síntese disso é “A Lua” (2010), que pode ser vista na Casa Triângulo (@casatriangulo).  Consiste, tecnicamente, em uma escultura em bronze, tripé, motor e projetor de luz.

Sua magia está justamente no mergulho nesses diversos elementos para discutir e sentir o que é real, o que é imaginário e o como nossa mente transita nesses universos. Existe inicialmente uma escultura, que foi modelada a partir dos mais diversos referenciais do mundo que entendemos como real.

Ela, projetada sobre outra superfície, vertical, torna-se uma imagem, que pode gerar as mais variadas evocações. Quando se menciona em lua, por exemplo, como não pensar na célebre luta de São Jorge contra o dragão que ali ocorre miticamente com tantas conotações simbólicas e religiosas, como a batalha entre o consciente e o inconsciente?

Além disso, a lua não tem luz própria. O que vemos é o reflexo daquilo que vem do sol, ou melhor, do projetor. Portanto, o que vemos na  “lua” é um novo significado da escultura em bronze, em um jogo de múltiplos elos entre o que achamos que é real, o que pode ser e o que é ou pode ser imaginário.

O melhor é que não há resposta, mas o talento em propor perguntas, o que é muito quando se concebe a arte como a capacidade de manter sempre viva a capacidade de indagar.

Oscar D’Ambrosio