Por que o célebre Dom Quixote e o seu não menos conhecido companheiro de jornada, Sancho Pança, inspiram o nosso imaginário até hoje? Podemos pensar em muitas razões, mas uma delas é essencial: a romântica luta do ingênuo herói de Cervantes com os moinhos de vento, que confunde com gigantes. Cabe lembrar que Quixote está em descompasso com seu tempo, lendo os romances cavalaria que já haviam passado de moda. A falta de percepção de estar vivendo em um mundo antiquado sem perceber gera derrotas sucessivas. O óleo sobre tela “O Engenheiro Fidalgo”, de Vinícius Souza, de Sorocaba, SP, traz o tema em uma concepção direta e singela, sem rebuscamentos, que coloca o Quixote em primeiro plano, rodeado de alguns dos elementos que constituem a sua saga. A pureza da imagem nos remete à ingenuidade trágica do célebre personagem, perdido nos valores de um passado que, na sua época, não existia mais. Ao reproduzir essa atmosfera, a obra nos convida a refletir sobre o imaginamos ser – e o que realmente somos. Geralmente essa distância nos é despercebida e pode gerar situações trágicas.
Oscar D’Ambrosio