Ao olhar o quadro pintado com tinta a óleo sobre tela “Geometrias da Minha Cidade”, de Sandra Ferreira, de Vila Nova de Gaia, Portugal, é inevitável não lembrar dos versos de Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa: “Ninguém nunca pensou no que há para além / Do rio da minha aldeia. / O rio da minha aldeia não faz pensar em nada. / Quem está ao pé dele está só ao pé dele". O município da imagem fica na Área Metropolitana do Porto, sendo famosa pelas caves do célebre vinho local. A obra traz uma pitoresca visão da localidade, tratada sob uma ótica que privilegia a ideia de retângulos coloridos, subdivididos de diversas maneiras. Enquanto a magia dos versos de Pessoa está, entre outros elementos, no uso ambíguo do vocábulo “só”, indicando “sozinho” ou “apenas”; o trabalho de Sandra Ferreira encanta pelo clima de mistério que encerra, já que não se faz presente a figura humana, e pela grandeza e eloquência na maneira de mostrar a composição plástica citadina.
Oscar D’Ambrosio