A arte da colagem costuma ser muito vinculada ao surrealismo. Há diversos motivos para isso. Um deles está justamente no conceito de que duas imagens do chamado real, quando colocadas em novo contexto, ganham um novo sentido. É que ocorre em “Voo”, de Silvio Severino, brasileiro radicado em Cork, Irlanda. Ao colocar um tubarão junto ao mundo no mesmo espaço, instaura uma imagem que se estabelece em outra dimensão. Os fundos, preto, mais próximo ao animal, e azul, perto de corpo celeste, auxiliam a estabelecer justamente elos entre a profundidade do mar e a imensidão do céu e vice-versa. Essa dinâmica aparece inclusive invertida na imagem, pois o célebre peixe surge como se fosse um ser espacial, pairando acima do globo. Essas maravilhas que a colagem propicia a tornam uma linguagem de grande densidade poética, muitas vezes não adequadamente valorizada.
Oscar D’Ambrosio