A coleção “Zeitgeist”, de Miagui, traz alguns aspectos essenciais para a arte contemporânea. Um deles está no próprio nome, que provém de uma palavra alemã que aponta para a existência de um “espírito do tempo”, ou seja, cada artista está vinculado à atmosfera intelectual, sociológica e cultural de sua realidade mais próxima e do conjunto de seu período.
O conceito, que existia no romantismo alemão, ganhou notoriedade com a obra “Filosofia da História” (1837), de Hegel. Nesse sentido, André Miagui retoma o estudo da técnica e das imagens principalmente dos retratos da Renascença ou do Barroco e os pinta com pastel oleoso, conseguindo resultados tecnicamente admiráveis.
Mas a sua intenção não é repetir o passado. Além do desafio técnico, ao colocar uma placa de celular sobre os olhos desses personagens, cria esse elo entre o passado e o presente, pois o objeto pintado justamente bloqueia a visão daquelas figuras clássicas da história da arte. Surge, assim, um lúdico clima permeado de senso crítico que oxigena cada trabalho.
O grande ensinamento da pintura de Miagui está justamente em criar o seu próprio espírito de época. Dá ao passado uma roupagem presente com um trabalho técnico esmerado, resultado de estudo e escolha cuidadosa dos materiais. Os seus retratos, portanto, são uma viagem pela história da arte e pela jornada vivencial de cada um de nós.
Oscar D’Ambrosio (@oscardambrosioinsta) é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Coordena o projeto @arteemtempodecoronavirus e é responsável pelo site www.oscardambrosio.com.br