Hoje, dia 13 de novembro, é o Dia Mundial da Gentileza. Muitos, seja qual for a sua religião, falam em praticar as virtudes recomendadas pela Bíblia em termos de uma melhor convivência entre os seres humanos, mas são poucos os que praticam aquilo que o poder da palavra ensina. O pintor paulistano Carlos Araujo faz isso com naturalidade.
Sua jornada plástica é um ato de devoção caracterizado por dois fatores. Há um lado quantitativo grandioso. Basta lembrar que 1.050 trabalhos de sua autoria integram a publicação Bíblia citações, com 640 páginas e 10 kg, entregue pelo governo do Estado de São Paulo ao papa Bento XVI na sua visita ao Brasil, em 2007.
Existe, no entanto, algo mais impressionante: a devoção desse artista autodidata, que recebeu o estímulo de Pietro Maria Bardi no começo da carreira, a seu projeto de trabalhar com temas que buscam levar lições de boa convivência entre os seres humanos. É uma espécie de missão divina, medieval e renascentista ao mesmo tempo. Por um lado, há algo dos artistas anônimos que pintavam igrejas para servir de referência didática para o povo analfabeto e ainda referências renascentistas no uso da pintura a óleo com sucessivas camadas e velaturas.
Progressivamente, a abstração vem ganhando espaço nas obras concebidas nessa enorme série. Não se trata do desaparecimento da figura humana, mas de uma busca pela construção de atmosferas nas quais o corpo aparece sugerido perante a grandiosidade das telas e de um todo em que o gesto e o estabelecimento de impressões e estados d’alma ganham um papel essencial.
A atmosfera é sagrada não só pelo tema escolhido, mas, acima de tudo, pela devoção ao projeto. O artista construiu uma poética marcada pela precisão técnica e pelo amor ao livro de sua vida, que, por extensão, passa a ser o livro de todos aqueles que se dispõem a percorrer as suas páginas, num exercício de prazer estético, seja qual for a fé de cada um.
Olha-se a imagem, busca-se a referência do título e mergulha-se na Palavra e no seu poder de alterar o mundo. A pintura de Carlos Araujo realiza assim sua função. Trata-se de uma Bíblia escrita com imagens, uma trajetória marcada pela sensibilidade e consciência de uma entrada de corpo inteiro num universo amplo em que o ser humano é levado a reduzir o seu ego perante a imensidade do Universo, aperfeiçoando assim a sua capacidade de ser gentil.
Oscar D’Ambrosio