A cura e a fé têm muitos caminhos. O projeto "Benzedeiras, tradição milenar de cura e fé", de Bruno e Marinilda Boulay, aponta alguns deles. Trata-se de uma iniciativa que permite uma reflexão que apresenta muitas portas de entrada, todas marcadas pelo diálogo entre a ciência e a religião; e entre a pesquisa e o mistério.
Afinal, o benzedor ou benzedeira é aquele que busca curar uma pessoa doente, aplicando sobre ela gestos em geral acompanhados por alguma erva com poderes nem sempre comprovados pela ciência e por alguma forma de prece. Há, nesse processo, elementos da cultura indígena e da africana – e um diálogo ainda com a tradição cristã.
A riqueza é tanta, que obriga um levantamento de indagações antropológicas, médicas, parapsicológicas, psicológicas, religiosas e existenciais. A questão pode ser abordada pelo ponto de vista de quem realiza a cura ou de quem a recebe – e mesmo sociedade que abriga essas práticas.
Ao somar vídeo, exposição presencial e online (https://totemcultural.org.br/expo/benzedeiras/), oficinas sobre o tema e o lançamento de um livro-catálogo, o projeto tem um de seus pontos altos na reflexão sobre quem cura e quem é curado. Existe ali uma empatia, um autêntico re-ligare, origem da palavra religião, no sentido do estabelecimento de uma conexão da pessoa com ela mesma, com quem cura e com o todo da natureza.
Dentro da tradição oral que domina as profundezas do Brasil, a exposição obriga a repensar qual é o papel dos saberes que envolve esse universo - e como curador e curado estabelecem uma relação semelhante à de criador e criatura na arte, ou seja, um não existe sem o outro. Por isso, o projeto "Benzedeiras, tradição milenar de cura e fé" traz esperanças de cura, em todos os sentidos, para cada um de nós.
Oscar D’Ambrosio