Aparentemente a série Linha do Tempo Interrompida, do fotógrafo Penna Prearo, trata da documentação de túmulos de pessoas à beira de estradas num país rodoviário como o Brasil. No entanto, as imagens que a compõem trazem em si, pelo menos, duas questões fundamentais: uma de cunho plástico e outra de sentido existencial.
As fotos ressaltam elos com seu entorno, seja a estrada, a árvore viva ou morta e os objetos que são deixados por familiares, conhecidos ou desconhecidos junto às cruzes ou capelinhas. Isso sem falar das oferendas e do tempo, como o mato que cresce ou o vento e seu poder de deslocar e desfocar aquilo que chamamos de real.
Como experiência vivencial, cada homenagem feita fala de alguém que não está mais nesta dimensão, mas se mantém na linha do tempo pela construção de um pequeno monumento. Esse não-estar se fazendo presente estabelece um elo entre quem viu e fotografou a lembrança e quem contempla e interage com a imagem.
As relações se multiplicam num processo que está muito além do documental, jornalístico ou arqueológico. Ingressa-se na esfera do simbólico. É exatamente aí que se instaura uma linha do tempo que se interrompe pelas circunstancias, mas que é retomada em cada novo olhar, dando vida ao que parecia morto tornando o que parecia um fim um novo começo.
Oscar D’Ambrosio