Um dos pré-requisitos do artista plástico é ter um olhar atento, capaz de captar desde as nuanças de um pôr-do-sol até a beleza presente nas penas de um pássaro, na pele de um animal ou nas linhas de uma construção arquitetônica. Esse olhar também deve funcionar como o de uma criança, no sentido de não perder a capacidade de manter a inocência de ver cada objeto como se fosse captado pela primeira vez.
A passagem desse olho crítico para a criação propriamente dita pode ocorrer de várias maneiras. Rubens Matuck transita por diversas formas de expressão que dialogam entre si. Assim, a pintura tem elementos da aquarela, que ganha efeitos de gravura ou da tridimensionalidade da escultura em madeira.
Nascido em São Paulo, em 1952, é nas suas viagens interiores, principalmente a história em quadrinhos Mogadom, que mantém desde a infância, e as para locais diversos do Brasil, China e Itália que o artista expande seus conhecimentos e inicia a feitura de uma de suas mais fascinantes jornadas: os seus cadernos de anotações.
São dezenas deles, que incluem desde viagens a locais como o Pantanal e a Amazônia a retratos das mulheres que visitam o ateliê. Também é possível encontrar imagens e observações coletadas na China, além de cadernos sobre as constelações do espaço. A curiosidade onipresente alia-se à habilidade do cronista de viagens.
Fascinado por arqueologia, ele também se debruça sobre o estudo de culturas do passado em um trabalho de pesquisa lento e árduo, que inclui uma densa discussão sobre a história da letra, da escrita e dos alfabetos, numa busca constante por novos paradigmas e contra qualquer verdade estabelecida.
Ao se observar a diversidade de ações de Rubens Matuck, compreende-se seu grande interesse por Leonardo da Vinci, um homem do Renascimento não só pela obra pictórica, mas principalmente pela postura artística e existencial de um ser voltado para o entendimento e pesquisa das mais diversas áreas do conhecimento.
Seja na aquarela, tinta acrílica, gravura em metal ou escultura em madeira, o artista lança seu olhar atento sobre a realidade circundante e sobre a imaginada. Mantém assim a mente aberta para novos e desafiadores projetos, seja em novas viagens ou na criação de fantásticos personagens que visitam planetas imaginários sonhados e trazidos plasticamente à luz com técnica refinada.
Oscar D’Ambrosio