A questão fundamental de Patrícia Bigarelli não é simplesmente explorar as potencialidades da cor e dos pigmentos em si mesmos, mas dar-lhes um novo sentido em que a capacidade de pesquisa se alie a um processo de despertar a sensibilidade do observador.
Usada em excesso, a cor pode colocar um trabalho a perder. Nesse jogo de riscos, a obra pictórica de Patrícia se destaca por ter a própria cor como assunto. Ela articula as cores de diversas formas, seja na pintura, sua expressão mais amadurecida e visceral, na gravura, onde as monotipias se destacam como processo único de mesclar a espontaneidade, o pensar do fazer e a técnica, e a fotografia, universo em que vem desenvolvendo trabalhos em que a ilusão de movimento ganha um papel fundamental.
Seja com cores mais quentes, primárias, ou com tons mais ocres, secundários, o poder de criar atmosferas se mantém pelo domínio da prática da pintura a óleo, que permite a exploração de instaurar camadas e veladuras repletas de nuances, visíveis à medida que nos aproximamos de cada quadro.
O progressivo esvaziamento da forma obtido pela artista leva a uma progressiva evolução no ato de lidar com as cores como um recurso plástico em que o que é pintado vale tanto por aquilo que se vê como por aquilo que se revela embora velado pelo processo de feitura de cada tela. Assim, a construção visual propriamente dita e a sugestão do trabalho efetivamente realizado caminham em paralelo.
A artista estabelece uma dinâmica própria, um ritmo musical se desprende de suas telas. Ela faz a cor falar, explorando distintas formas de gerar efeitos a partir do espectro cromático. Dá, assim, vida à cor, com abstrações em tinta a óleo que mostram um processo criativo oriundo de uma aprendizagem contínua na Itália e no Brasil.
Há em cada obra uma narrativa construída por um percurso em que as cores quentes e vibrantes já tiveram um papel predominante e onde as áreas eram mais severamente limitadas. A atmosfera ficou mais tênue com o trabalho na sutileza dos degradês.
A exploração da cor torna-se cada vez mais a forma de dar voz ao silêncio individual. No diálogo interior marcado pelo esvaziamento da mente, uma verdade plástica é revelada: a da força de cada tela como a potente expressão de um sentimento afirmativo de estar no mundo que tem na cor seus principais e delicados sussurros.
Oscar D’Ambrosio