Com sabedoria, tranquilidade e grande senso de observação, Octávio Araújo, falecido em 2015, soube transformar seu amplo conhecimento de história da arte em obras marcantes, gerando quadros que atingem o coração do espectador pela riqueza e perfeição, assim como pelas numerosas alusões à mitologia grega, entre outras culturas.
Nascido em 22 de março de 1926, em Terra Roxa, SP, para onde a sua família, originária da Bahia migrara, ele fez seus primeiros desenhos nas paredes da casa, como é comum com as crianças do interior, e depois ganhou de um primo uma pequena caixa de giz de cor.
Em São Paulo, estudou pintura com mestres como o italiano José Barchitta. Aos 20 anos, ao lado de artistas como Marcelo Grassmann e Luís Sacilotto, realizou a primeira exposição de desenhos no Instituto dos Arquitetos do Rio de Janeiro. Em 1947, tomou parte, com artistas como Aldemir Martins e Maria Leonita, da célebre mostra “19 pintores”, em São Paulo.
Entre 1952 e 1957, Araújo conseguiu emprego como auxiliar de Portinari no Rio de Janeiro. A participação, ainda em 1957, do Salão para Todos, naquela cidade, foi uma guinada em sua vida pessoal e em sua carreira. Ao ganhar o primeiro prêmio de gravura, teve a chance de ir com a exposição para a China.
A mostra gerou a oportunidade de levar os quadros para Moscou, na então URSS, onde a recepção foi feita pela intérprete de russo para o espanhol Klara Gourianova. A paixão entre a letrada russa e o pintor brasileiro foi à primeira vista. No início de 1961, ele mudou-se para Moscou, onde se casou. Ali tiveram dois filhos, mudando-se para São Paulo, em 1968.
A produção artística de Octávio instaura a sua poética em diversas técnicas: desenho a lápis de grafite, litografia, gravura e óleo sobre tela. Ele instaura uma atmosfera sobrenatural. O que vemos é irreal, mas perfeitamente possível dentro da habilidade com que foi construído. O artista nos propõe então o seu próprio mundo, harmonioso e possuidor de relações lógicas internas.
Octávio Araújo, com sua fala agradável e sorriso aberto, precisa ser recuperado pela crítica de arte e ter seu lugar garantido na pintura nacional como aquele que se apropriou da técnica pictórica, colocou-a a seu serviço e, mesclando capacidade com sensibilidade, produziu autênticos carnavais imagéticos. Não se trata somente de um pintor, mas de um artista que viveu sua existência como obra de arte.
Oscar D’Ambrosio