O pintor, desenhista e gravador Mario Gruber, falecido em 2011, mantém-se como um pião em rotação a indicar caminhos para seus seguidores. Nascido em Santos, SP, em 1927, tem uma das trajetórias mais consistentes da arte brasileira. Mesmo nos anos 1950, dominados pelas experiências ligadas ao concretismo, ele sustentou uma estética em que o figurativismo era central, seja em formas humanas ou paisagens.
Radicado em São Paulo, SP, a partir de 1946, Gruber participou, no ano seguinte, da célebre exposição do Grupo dos 19, quando recebeu o prêmio de pintura. Começava assim a firmar-se no cenário paulista das artes plásticas. Em 1949, com bolsa do governo francês, Gruber aperfeiçoou-se em Paris e, de volta ao Brasil, fundou, em Santos, o Clube da Gravura, depois Clube das Artes.
Manteve-se fiel a alguns assuntos dentro da expressão figurativa, como crianças, bonecos e máscaras, executados com técnica requintada. Seus trabalhos em gravura e pintura que tratam especificamente da figura humana mostram como ele é um dos artistas brasileiros que mais entende de tintas, papéis e formas de impressão.
Conhecer gravuras de Gruber em vários estados e os trabalhos a partir de uma mesma placa revela como ele é um apaixonado por essa técnica e por suas possibilidades. Além da pesquisa estética e domínio técnico, há a procura de aperfeiçoamento que alerta contra qualquer espécie de acomodação, seja no ato do fazer ou de pensar a arte.
Imagens noturnas, visões do porto de Santos e da Praça da Sé contribuem para acentuar o painel denso de um artista capaz de estabelecer o seu próprio universo. Gruber cria um mundo autônomo que dispensa o chamado real graças à sua coerência interna.
Cada obra está cercada de sadio mistério. Parece significativo que o carnaval seja um dos temas da predileção de Gruber. As máscaras e o mundo fantástico que cerca essa festa popular é exatamente o que ele faz em cada nova gravura. Ele constitui um universo de máscaras que somente podem ser retiradas pelo espectador.
O observador de seu trabalho, porém, não deseja retirar esse véu da criação. Ele admira aquilo que foi feito e busca entender como o resultado foi atingido. Instaura-se assim uma cumplicidade entre criador e receptor. Ambos compartilham um novo mundo, o da arte de qualidade, no qual Mario Gruber é um mestre.
Oscar D’Ambrosio