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Ateliês: Marina de Falco

Ateliês: Marina de Falco
24/10/2020

O supremo encanto da obra de Marina de Falco está em um trabalho aparentemente mais delicado e enganadoramente despretensioso. São as gravuras da série “Folhas que caem”. O segredo dessa jornada no espaço é oferecer um resultado plástico conciso, sem artifícios, fruto de um processo sereno, que mescla o visceral do desejo de criar com o rigor do fazer.

Tudo começa com uma matriz da qual é arrancado um fragmento em forma de folha. Esse pedaço é então impresso, repetidas vezes, de acordo com o desejo da artista, em variadas posições sobre o papel branco de modo a criar diversas possibilidades da imagem da folha, isolada, sobreposta, solta no espaço ou próxima a outras.

São constituídas famílias que estabelecem um império de delicadeza pelo aspecto majestático do conjunto. Sua solenidade está na beleza e na conquista de certa tridimensionalidade, pois as imagens das folhas de fato parecem estar voando, podendo cair sobre o solo a qualquer momento.

Marina de Falco nos lembra, com simplicidade e elegância, que o tempo não foi inventado. Ele simplesmente existe. Nesse sentido, o movimento sugerido pelas imagens das folhas gravadas pela artista alerta constantemente que o saber administrar a queda das folhas é um exercício refinado de acuidade visual.

Não se trata só de técnica no que diz respeito à gravura, mas de domínio da artista sobre si mesma. Qualquer exagero põe a perder uma pesquisa marcada pela contenção do gesto e pela liberdade de saber usar os silêncios em nome da construção de uma poética propiciada pela mescla da consciência da feitura com a riqueza do lirismo criativo.

Oscar D’Ambrosio