A luz é tudo para o artista plástico Luiz Sôlha. Foi ela que levou esse filho de um chefe da estação de trem em Mongaguá, litoral do Estado de São Paulo, a percorrer os trilhos dos fios de conduíte e da pintura a óleo sobre tela. Dos primeiros desenhos e pinturas na infância, passou a pintar pranchas de surfe, atividade na qual ganhou um destaque que motivou a sua vinda para São Paulo, em 1977, para trabalhar na criação das mais diversas ilustrações para propaganda.
Inicialmente autodidata, ingressou na Faap, onde recebeu duas bolsas de estudos integrais que lhe permitiram realizar sua licenciatura em Educação Artística. O gosto pelas grandes dimensões e a necessidade de pintar aquilo que via sob a sua interpretação revela um amor à figura e, acima de tudo, a construção de um diário plástico.
Suas esculturas em que moldava a mão os fios criando os chamados “signos notáveis”, mantinha o compromisso com o corpo humano, mas numa certa dimensão épica, já que os seres criados eram entes tridimensionais a conquistar, embora sem massa interior, o espaço.
Nessas esculturas apropriava-se de elementos clássicos da história da arte sob uma nova perspectiva. Raciocínio semelhante pode ser encontrado nas obras em que justapunha diversos elementos da mídia. Partia de fotos de artistas como a cantora Madonna, artistas plásticos célebres e ícones do cinema – a cujas sessões assistia desde criança no cinema onde o pai era projecionista – e os colocava nos mais diversos ambientes, numa releitura do cotidiano.
O passo seguinte foi a macrofotografia de detalhes de sua própria palheta de pintor. Os recortes realizados pelo olhar são levados para a tela em grandes proporções. Trata-se de um trabalho de numerosas camadas de tintas e veladuras.
A tinta destinada a ir para o quadro ou a ficar impregnada na paleta, semimorta, ganha então a relativa perenidade e imortalidade da tela. Ao se valer da técnica apurada para construir as imagens fotografadas, propicia um efeito visual ímpar de devoção ao detalhe e busca de aprimoramento. Congela um instante da tinta pela foto e lhe dá nova vida pelo visceral ato da pintura.
Oscar D’Ambrosio