Divertir-se com aquilo que se faz para sobreviver é um prazer que poucos atingem. O artista plástico David Dalmau pode se dar a esse luxo. Sua produção revela o sentimento autêntico de se expressar por meio das tintas. É por meio delas que comunica a sua inteligência visual e forma de conhecer o mundo.
Nascido na Espanha em 4 de dezembro de 1962, veio ao Brasil em 1991 e atuou na produção de eventos especiais de Artes Cênicas e Dança na 21ª Bienal de São Paulo. Teve então a oportunidade de acompanhar os bastidores da montagem do evento, podendo conversar com a maioria dos artistas plásticos que participou do evento.
Foi uma ocasião favorável para cursar uma autêntica universidade, tanto em termos de aprendizagem de técnicas como de experiências de vida. Sua obra foi progressivamente se encaminhando para captar ambientes e penetrar na atmosfera de cada um deles. Isso significa vivenciar a ansiedade de uma bailarina clássica num processo de seleção para um importante espetáculo e a precisão de um jogo de golfe ou a percepção do universo de um bar no Brasil ou em qualquer outro lugar do mundo.
O uso de tintas importadas de alta qualidade e a forma de compor as suas próprias cores permite, ainda mais nas telas monocromáticas, atingir um grande universo de nuances, que contribui decisivamente para o resultado final, sempre com grande força, principalmente nos quadros de grandes dimensões.
Dalmau desenvolve um trabalho que atinge grande impacto visual quando apresenta um conjunto de pessoas, mas não perde intensidade em desenhos em preto e branco. Ao lidar com a tinta acrílica sobre papel alcança também expressividade na maneira como compõe as imagens e cria momentos de tensão.
A grande diferença da obra do artista reside na maneira como lida com a cor. Ele consegue estabelecer relações em que as multidões de anônimos costumam desempenhar um papel essencial para comunicar uma interação com o mundo regida pela alegria de viver e pela intensidade de captar aquilo que ele tem de melhor.
Há na paleta do pintor uma ode à alegria no sentido de que a arte não brota, como acreditavam os românticos, do sofrimento, mas da alegria do ato de viver e da capacidade de captar aquilo que existe de mais intenso nas mais diversas situações, seja num passeio cotidiano ou numa situação extrema.
No ato de realizar uma tela, a arte de David Dalmau atinge a plenitude. Ali não vê o tempo passar e sente a satisfação de que está se integrando ao mundo. Em cada novo trabalho, há uma interpretação da realidade. O pintor capta, com seu olhar progressivamente treinado e sensibilidade peculiar, o movimento e o pulsar do século XXI.
Oscar D’Ambrosio