textos

diárias de bordo

Ateliês: Cleber Machado

Ateliês: Cleber Machado
24/10/2020

A obra de Cleber Machado oferece a possibilidade de mergulho estético num mar de infinitas combinações plásticas que tem a geometria como eixo central. Gaúcho, ex-recordista estadual dos 100 m nado de peito, preso por um dia por participar de passeatas contra a ditadura militar nos anos 1960, apaixonado por caça submarina, ele já morou no Rio de Janeiro, Petrópolis, Nova York, Cidade do México e está radicado em São Paulo.

Também criador de joias, atividade que lhe rendeu prêmio de Pesquisa na 11ª Bienal de São Paulo, em 1971, Machado tem como maior preciosidade sua obra escultórica. Trabalha nela, em diversos materiais, como madeira maciça, vidro e ferro, de maneira a revelar a humanidade presente nas formas geométricas

É nos encaixes e vazios que a obra de Cleber ganha relevância. Trata-se de muito mais que um exercício plástico. Constitui uma abordagem de mundo, uma resposta visual aos estímulos que não paramos de receber. O resultado questiona a nossa capacidade de entendimento da chamada realidade, pois se cristaliza ao atingir o momento mágico em que uma densa composição plástica se apresenta como portadora de uma aparente simplicidade.

O artista desafia cada observador com uma mescla entre o domínio técnico da matéria escultórica e uma poética marcada pela maneira de sensibilizar cada um que vê o seu trabalho. As indagações superam o formalismo. A humanização do geométrico e a geometrização do humano se encontram na procura do belo.

A luz, além da forma, é outro elemento primordial na linguagem de Cleber Machado. Para isso, desenvolveu em seu ateliê todo um mecanismo que permite visualizar cada peça que cria com o aumento e a redução da luz. Isso possibilita estudar o jogo com as sombras e a capacidade de gerar possibilidades com distintas intensidades luminosas.

Cleber Machado apresenta esculturas em que o ser e o pensar nunca se diluem. Seu trabalho tem o aspecto do artista que constrói a sua poética, do crítico que reflete sobre o passado em busca de soluções próprias e do educador que propicia a prática renovada do olhar. Essas três facetas (artista, crítico e educador) se unem. Seu trabalho, bem pensado, feito e acabado, revela, esconde e sugere. Cumprir essas três funções é exatamente o mistério da arte.