O ato de criar, para Antonio Henrique Amaral, falecido em 2015, era uma prática contínua do exercício de transformar as idéias que estão na mente em um resultado plástico sobre a tela ou o papel. Para o aprimoramento, portanto, é necessário um exercício contínuo de modo que o braço realiza essa transferência.
A prática do desenho mostra bem que Amaral foi um artista que foi se construindo com um pensamento e uma ação paralelas rumo a um conhecimento técnico cada vez mais aprofundado e um pensamento que independe de escolas ou programas, mas está voltado para o atendimento de suas necessidades visuais e criativas.
Nascido em 1935, em São Paulo, SP, ele nasceu num ambiente propício ao desenvolvimento intelectual. As irmãs, Aracy, Suzana e Ana Maria, por exemplo, tornaram-se historiadora de arte, cineasta e diretora de teatro de marionetes do grupo Casulo, tendo recebido, em 2008, o Prêmio de Criatividade no Festival Internacional de Teatro de Bonecos de Praga. A pintora Tarsila, por sua vez, era uma prima de segundo grau do pai com a qual Antonio Henrique não teve o menor contato, encontrando com ela apenas uma vez, em 1970, quando ela já estava em cadeira de rodas.
Seu primeiro e definitivo impacto com a arte foi em 1951, na I Bienal de São Paulo. Determinado a ser pintor, passou a estudar no ano seguinte desenho com Roberto Sambonet. Foi um período de muita prática que o levou a conviver, no bar do Museu de Arte Moderna, com artistas como Marcello Grassmann e Aldemir Martins, que admiraram seu desenho e o incentivaram a estudar gravura com Livio Abramo.
Em 1967, ocorrem dos fatos marcantes: a publicação do álbum de xilogravuras O meu e o seu, com apresentação e texto de Ferreira Gullar e capa de Rubem Martins. Também faz sua primeira individual em pintura, na Galeria Astréia, com a série das “Bocas”. Dois anos depois, impactado pela tropicalização feita por José Martinez Correa da peça O rei da vela, de Oswald de Andrade, começa a série Bananas, fruta com a qual ironiza a repressão militar, a republiqueta que o Brasil poderia vir a ser.
Posteriormente, ganha o prêmio de viagem ao exterior no Salão de Arte Moderna no Rio de Janeiro e se instala em 1972 em Nova York, de onde retorna em 1981. Com a abertura política e para não ficar estigmatizado com apenas uma série, recusa-se a expor novamente as Bananas e começa a série dos Bambus, onde pode realizar numerosas pesquisas de cor, fundos e formas.
Nos meandros de toda essa história, desde sua adolescência e migração da gravura para a pintura, para a qual se dedicou com intensidade para atingir o maior grau possível de excelência, Antonio Henrique Amaral produziu dezenas de cadernos biográficos. Neles mescla textos com imagens feitas nas mais variadas técnicas. Havia ainda em seu ateliê uma quantidade incalculável de desenhos, alguns depois levados para a tela.
O artista paulista traduz em sua obra uma preocupação constante com a luz e os planos. Sem se filiar a movimento algum ou a projetos programáticos pré-determinados, mantém uma trajetória marcada pela produção daquilo que o apraz e que julga importante como maneira de colocar a sua visão de mundo. Isso ocorre por um conjunto de trabalhos densos na proposta de obter pela prática constate e renovada a expressão de uma interpretação sempre intensa daquilo que comumente se chama realidade.
Oscar D’Ambrosio