O tempo é matéria-prima da poética da artista plástica Adriana Rocha. Suas criações visuais lidam com o desaparecimento das imagens sejam elas desenhadas, pintadas ou impressas na tela. Seu universo é o da desconstrução que cria sugestões e mergulha num passado sugerido e gestado pela arte do fazer.
São estabelecidas assim atmosferas. O importante não está naquilo que é visto, mas na maneira como o resultado final se apresenta. A grande preocupação da artista está no que deseja atingir e, para isso, vale-se dos mais variados procedimentos. Perante o objetivo traçado, as técnicas se somam num compromisso maiúsculo com uma edificação lírica em que o tom envelhecido fale do presente velado.
O uso do gesso, da lixa e do verniz nas telas, assim como na sobreposição das camadas de tinta, tem como diferencial o processo sucessivo de lavar e raspar o suporte. Desse modo, as imagens que surgem ao final são o resultado do andar de um sulco, que perpassa o próprio tempo.
Se viver é ganhar marcas de expressão no rosto, o trabalho de Adriana constitui uma alegoria desse processo no sentido do estabelecimento das marcas de todo um andamento existencial de cada tela. Dessa maneira, o mistério se instaura pela busca de um referente esmaecido pela ação da artista.
O uso da fotografia, própria ou alheia, e da pintura levanta outra questão essencial. Se a primeira é, na essência, um exercício de selecionar aquilo que se deseja, limpando o que está ao redor, criando um registro rápido e instantâneo, a segunda funciona de uma maneira inversa, pois trata-se do mecanismo de preencher um suporte em branco lentamente ao longo do tempo.
Nascida em São Paulo, SP, em 1959, Adriana passou a infância e a adolescência em Bauru, interior do Estado, vindo para São Paulo estudar artes na Faap. Iniciou assim uma trajetória que culmina hoje com a técnica de trabalhar com tinta acrílica, retirando dela o brilho artificial pelas seguidas lavagens do material.
Isso tem uma relação direta com um processo mental em que o importante está na impressão que se deseja atingir e, para chegar até ela, a imagem inicial não constitui o fator essencial. Por isso, os motivos, sejam estampados por uma máquina que imprime a calor, ou desenhados, não variam muito.
O que está escondido é o que fascina. A voragem do tempo, levada para as obras, cria uma nova cronologia: a da reflexão sobre o que se é e sobre o que deixou de existir e sobre as sombras daquilo que se foi, mas, de uma maneira ou de outra, permanece, constituindo um arquivo de rastros, tanto na tela como na mente.
Oscar D’Ambrosio