textos

diárias de bordo

Pílula Visual: Bela e Singela

Pílula Visual: Bela e Singela
23/10/2020

Uma rosa pintada não uma flor, mas uma representação que interpreta o que consideramos real e gera as mais variadas reações. Isso ocorre perante a obra “Bela e singela”, realizada com tinta a óleo sobre tela, por Maria Tereza Barbosa, de Votorantim, SP. Perante o trabalho, alguns podem lembrar, por exemplo, do célebre poema de Carlos Drummond de Andrade “A flor e a náusea”, do livro “A rosa do povo”, de 1945, em que uma misteriosa flor nasce do asfalto.

Mas o texto do poeta mineiro não descreve uma rosa vermelha, flor vinculada, por exemplo, à Afrodite. Deusa do amor, associada inicialmente às rosas brancas, por ter nascido do mar, ao ver seu amado Adônis mortalmente ferido, correu para socorrê-lo, pisando num espinho. Viria desse sangue a coloração das rosas vermelhas, símbolos desse luto apaixonado.

Por ter seu miolo fechado, é a flor é ainda associada ao órgão sexual feminino e, em consequência, ao segredo e à virgindade. Por isso, na Idade Média, pintava-se uma rosa no teto de algumas salas, indicando aos participantes de uma reunião que os assuntos ali tratados deveriam permanecer em sigilo. No período, também era comum a associação da flor com a Virgem Maria, a quem eram dedicadas as rosáceas das igrejas góticas, além do rosário, que vem do latim “rosarium”, roseiral”.  

Há, portanto, na rosa vermelha, as mais variadas conotações do amor, seja virgem ou sensual. Quando vemos a sua imagem, “Bela e Singela”, essas referências se mesclam – e o que sentimos e vemos dialoga com aquilo que a artista fez. Assim, a arte prossegue em seu misterioso e fascinante caminho. Que a rosa que vemos converse com a que conhecemos e com a que desejamos conhecer...

Oscar D’Ambrosio