A arte, com as questões que levanta, é uma maneira de escapar do mundo e de nos trazer de volta para ele. Cecília Menezes realiza justamente esses movimentos. A sua “Boneca Gaiola”, ao remeter, no mínimo, a dois aspectos importantes do universo feminino, traz um pensamento sobre a condição da mulher ao longo da história e no momento contemporâneo.
A imagem de sua cerâmica esmaltada evoca, por exemplo, as Santas de Roca do barroco mineiro, denominação que se dá as imagens sagradas feitas para serem carregadas em procissão e que, por terem uma armação de madeira, podiam ser vestidas. Por isso, recebiam também o nome de imagem de vestir, de bastidor ou de procissão.
A obra também se relaciona com as célebres "cage” crinolinas ou anáguas armadas que lembravam gaiolas de pássaros e eram usadas sob as saias para lhes conferir volume. Inicialmente feitas artesanalmente, com crinas de cavalo trançadas (daí seu nome), a partir de meados do século XIX, passaram a ser produzidas industrialmente, com tirantes e finos arames de aço.
Ao remeter tanto ao universo sagrado das santas como ao profano das mulheres do século XIX, a “Boneca Gaiola” surge como um alerta para a libertação da mulher de qualquer tipo de amarra que seja colocada em seu corpo e em sua mente, colocando-se em pé de igualdade , por mais que as condições históricas lhe tenham negado isso ao longo do tempo, para a construção de uma sociedade mais justa e equânime.
Oscar D’Ambrosio