A presença de imagens variadas de Jesus Cristo em fotos de grupos realizadas pelo fotógrafo Penna Prearo gera numerosas indagações sobre o próprio sentido da religiosidade. Afinal, se Deus são três num só (Pai, Filho e Espírito Santo) e todos somos, de acordo com o dogma, nascidos à sua imagem e semelhança, como podemos ser tão diferentes? Surgem assim reflexões sobre o cotidiano, como apontam as fotos, tiradas em reuniões banais: equipe de futebol amador, família em torno de um berço, junto à piscina, no bar ou na praia. Todos têm uma parte de divino dentro de si, mas isso se manifesta de alguma maneira visível? Ou se dá no campo da filosofia e da abstração? O conjunto comporta uma carga de ironia, mas ela não está desprovida de densidade existencial. Ao ver os músicos e as pessoas tatuadas, por exemplo, amplia-se a concepção de que Deus pertence a todas as tribos. Ou são elas que se apossam dele? De uma forma ou de outra, é transmitida a força de que algo pode nos unir, mesmo que seja uma imagem simbólica. Ao surgirem com o rosto de Jesus Cristo, as pessoas perdem a sua individualidade, pelo menos em termos da face, mas mantém a poética do corpo. E cada um se manifesta de uma maneira. É curioso e significativo observar como a cara que unifica acaba por levar anos a concentrar o olhar em outras dimensões. E Ele, que tudo vê, como nos olha se todos somos filhos Dele? Com todas essas indagações, a série nos desafia a cada novo olhar.
Oscar D’Ambrosio