Interferir nos ambientes com algum objeto gerando novas relações entre o meio que já existe e um elemento que é sutilmente ali colocado é uma das características da construção poética da série Jornada do alumbramento de Apollo do fotógrafo Penna Prearo. Ao colocar cabeças de Apollo, esculpidas por Gustavo Freiberg em dois tamanhos, nos mais diversos cenários, como um galinheiro, junto à água, na encruzilhada de estradas, entre outros, cria uma nova realidade, plena de poesia. A peça dialoga com os elementos da natureza num percurso da sabedoria do olhar. Apollo se deleita ao se deslumbrar e vislumbrar essas conversas com diversas situações. Pelas relações concebidas por Penna, ele até parece mudar de expressão, ora mais feliz, ora indiferente. Surge sereno junto à fluidez da água e indagador quando perto do ocre da terra. A jornada cresce em interpretações à medida que parâmetros simbólicos se colam na representação. Seu silêncio de esfinge ganha som e sentido pelas atmosferas que se estabelecem. O seu não-falar ganha voz pelas composições visuais e jogos cromáticos propostos por um fotógrafo que sabe como dar ao seu fazer um mistério plástico indagador e lírico. Apollo se ilumina em cada foto – e nos leva com ele em sua caminhada.
Oscar D’Ambrosio