A arte pode nos levar a outras dimensões. Essa é a proposta do trabalho “O segundo céu”, de Sidney Lacerda. A moldura utilizada, uma gaveta abandonada pela sociedade de consumo, traz a reflexão sobre os guardados de cada um de nós, aqueles que ficam fisicamente nos mais variados espaços e os mais importantes e complexos, os que estão em nossa mente.
Dentro desse universo de lembranças e recordações, a aquarela sobre papel, com o mistério e a transcendência que lhe é peculiar, instaura um universo imaginário, do qual participam animais de plásticos, pintados de branco, que ocupam a gaveta/moldura e o próprio espaço pictórico.
Ainda sobre a aquarela, temos lascas de mica, elemento mineral e telúrico que acentua a ideia de que a obra promove um pensar sobre a existência de todos os seres vivos em sua caminhada terrena. A tonalidade da madeira, a uniformidade dos animais e as nuanças do diálogo entre a aquarela e a mica trazem possibilidades de reflexão.
Ao nos debruçarmos sobre o imaginário criado pelo artista, temos a impressão de que mergulhamos em um outro mundo, que não parece ser melhor do que este. Será um alerta para uma realidade que já existe e que não podemos ou queremos ver? Ou simplesmente somos levados a um outro plano, um outro céu, para discutir o que está ao nosso redor?
Oscar D’Ambrosio