O tema da Pietá, que mostra a dor de Maria sobre o corpo morto do filho, é bastante comum na Europa do Norte e encontrou a sua expressão máxima na célebre escultura em mármore de Michelangelo, que ele fez com apenas 23 anos. Inclusive, acredita-se que, como muitos poderiam duvidar de sua autoria, ele teria optado por inscrever o seu o nome na faixa que atravessa o peito da Mãe de Jesus.
O escultor João Goudinho retoma o tema, utilizando epóxi, mas numa abordagem conectada com nosso tempo, com um rapaz negro morto sendo amparado pela sua mãe. Essa maneira de tratar da violência urbana brasileira dentro de um contexto que remete ao Renascimento italiano ilustra a força e o vigor da arte de transcender épocas.
O calçamento que remete ao formato do Estado de São Paulo, o corpo ensanguentado do jovem e o rosto sofrido da senhora encarando o público formam um conjunto que explicita como, geralmente, a maneira contundente como a mensagem que um artista se propõe a divulgar ganha materialidade é mais importante do que a escolha ou a mera habilidade no uso de uma técnica. Unir o que se deseja dizer à maneira de fazê-lo é sempre o maior desafio.
Oscar D’Ambrosio