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Pílula visual: Sobre camafeus, pontilhismo e amor

Pílula visual: Sobre camafeus, pontilhismo e amor
30/09/2020

A arte permite o cruzamento de diversos conceitos e linguagens. Quando olhamos a obra de Levy Martins que acompanha este post, diversas questões vêm à tona, como a técnica do camafeu e a sua importância como adorno, a técnica do pontilhismo utilizada e o conteúdo simbólico da imagem representada.

O termo camafeu vem do latim e significa “pedra esculpida”. É uma técnica usada em jóias para formar figuras em relevo, a partir do uso de camadas sobrepostas de cores diferentes, sendo muito utilizada em broches e pingentes. Acredita-se que tenham surgido em Alexandria, por volta de 300 a. C., com imagens divinas, cenas mitológicas e figuras femininas.

Sabe-se que as jovens do período helenístico utilizavam a figura de Eros como convite à sedução. Napoleão Bonaparte, por sua vez, tinha fascinação por eles, mas foi a Rainha Vitória que os popularizou na Europa, usando-os em blusas, nos vestidos ou amarrados com uma fita em volta do pescoço.

Levy Martins utiliza na imagem a técnica do pontilhismo, escola de pintura desenvolvida no final do século XIX, oriunda do impressionismo, em que pequenas manchas ou pontos de cor provocam, pela justaposição, uma mistura óptica nos olhos do observador, ajudando a formar figuras.

Martins se vale dessa técnica, à sua maneira, para criar um ser que tem a delicadeza, a pureza e a ingenuidade de um anjo e também evoca o mítico deus grego Eros, bem diferente do sensual Cupido romano. Além disso, a flor vermelha que cai de sua mão direita dialoga com as que estão na parte superior do camafeu, talvez a nos fazer refletir, respectivamente, sobre o amor real e o ideal... Que a arte continue a nos propiciar essas interrogações...

Oscar D’Ambrosio