Marcas do tempo
Todo mês de setembro, que marca o nascimento de Tarsila do Amaral, é uma excelente oportunidade para refletir sobre a obra e a vida da artista, uma das mais influentes pintoras de nossa história. A data também motiva uma reflexão sobre a passagem do tempo e como ele pode ser cruel em certos aspectos.
Afinal, Tarsila nasceu em 1º de setembro de 1886, há 134 anos, em Capivari, SP, e, como pintora e desenhista, tornou-se uma das figuras centrais do início do modernismo brasileiro, tendo como uma de suas obras mais relevantes, entre outras, o “Abaporu”, de 1928, um dos principais marcos no movimento antropofágico nas artes plásticas.
Porém, após diversos problemas de saúde, em meio a uma profunda depressão, a trajetória vivencial dela termina em 17/1/1973, quando faleceu, em São Paulo, SP, Essa jornada de altos e baixos culmina com uma curiosa homenagem no espaço, pois a União Astronômica Internacional, em 20/11/2008, deu o nome "Amaral" a uma cratera do planeta Mercúrio.
Essa reflexão sobre a passagem da existência – e seu efeito – ocorre também na obra “Marcas do Tempo”, de Wladmir Amoroso, que acompanha este post. Realizada com giz pastel sobre cópia xerográfica, em julho de 1993, ele parte da imagem do seu filho para fazer uma reflexão:
“Assim como um arqueólogo escava e procura, deixo no tempo minhas marcas. Às vezes encontro algo do passado e lembro o quanto o tempo é ingrato, porque nos traz a saudade de momentos que ficaram marcados na minha mente ou nas minhas pinturas, imagens de um passado às vezes distante e muitas vezes recente. Mas, como diz a música “O Tempo”, de Reginaldo Bessa, “O tempo não para no porto/ Não apita na curva, não espera ninguém.”
Esse tema, aliás, já foi tratado por compositores de diferentes gerações, como Caetano Veloso, em “Oração ao Tempo”, e Cazuza, em “O Tempo Não Para”. Wladmir Amoroso, em seu trabalho, traz justamente a reflexão da passagem do tempo nas alterações geradas no corpo e na mente dele e do filho; nas notícias de jornal que desatualizam o conteúdo; e nas folhas de papel que deterioram com o tempo.
Assim, as marcas da passagem tempo se esparramam. Deixaram marcas, vestígios e cicatrizes na vida e na obra de Tarsila e também nos afetam a cada dia. Alertam como um aparente sucesso pode ser efêmero e como o tempo é o grande e único vitorioso em nossa cotidiana jornada existencial na qual a arte talvez seja um caminho para uma aparente (ou real) imortalidade.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Coordena o projeto @arteemtempodecoronavirus e é responsável pelo site www.oscardambrosio.com.br