Um dos maiores fascínios a produção artística contemporânea é a sua capacidade de dialogar livremente entre estilos e motivações, o que possibilita os mais diversos caminhos de interpretação. É que faz Marinilda Boulay no trabalho sobre papel "Com + de 1m de distância: Um + Um pode ser = a Dois. Para Antonio Henrique Amaral".
A conversa visual é estabelecida com “Um + um = a dois?", de Antônio Henrique do Amaral (1935 – 2015), xilogravura pertencente a série "O meu e o seu" de 1967. O trabalho do artista paulistano critica justamente o egoísmo dos integrantes de um casal. Com cada um olhando seus problemas, devido ao egoísmo, não se tornam um par harmônico.
Marinida trata o assunto com a presença de São Miguel, um dos sete arcanjos, anjos da mais alta hierarquia, ligado à cura. A narrativa célebre nesse sentido provém do século VI quando o Papa Gregório Magno, para combater uma peste, organizou procissões pelas ruas de Roma. Perto do atual Castelo de Santo Ângelo, desceram do céu fileiras de anjos.
No alto do Castelo, surgiu a figura armada de São Miguel Arcanjo enxugando o sangue da sua espada e a recolocando na cintura. A peste tinha acabado. Essa narrativa, na visão de Marinilda Boulay, ganha, neste momento de novo coronavírus e de pandemia, novas visões. Enquanto não há cura, o distanciamento social, em nome da vida, curiosamente nos aproxima.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Coordena o projeto @arteemtempodecoronavirus e é responsável pelo site www.oscardambrosio.com.br