Infelizmente a injustiça se faz presente em muitos episódios da história recente do país. Pintada com tinta acrílica sobre tela, a obra “A Coleira do Cão”, de Wladmir Amoroso, tem sua grande expressividade visual aliada a dois fatores: um histórico e outro literário. Ambos se conjugam para o impactante resultado final, que gera inquietação em quem a observa.
O trabalho alude a Evaldo Rosa dos Santos, o Manduca, cavaquinhista e membro da primeira formação do grupo Remelexo da Cor, morto com 80 disparos pelo Exército, em abril de 2019, em Guadalupe, na zona norte do Rio de Janeiro, RJ, numa ação que chocou o país já que ele e a família iam para um chá de bebê e o carro foi confundido com o de assaltantes.
O título da obra é uma referência ao livro homônimo de Rubem Fonseca (1925 – 2020), de 1965. O conto que intitula a publicação tem como protagonista Vilela, um comissário que, inicia uma investigação de uma série de crimes no Rio de Janeiro. A narrativa mostra assim uma polícia falida, com profissionais defasados, cansados e com pouca estrutura.
É denunciada a corrupção dos traficantes, dos policiais e da imprensa. Na última cena, Vilela visita a humilde casa da esposa de um policial para lhe contar que o marido fora morto pelos bandidos e conclui que “A pobreza é pior que a morte”. Na obra de Amoroso, as botas e as cápsulas de projéteis alertam assim para a violência e a miséria existente no país.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Coordena o projeto @arteemtempodecoronavirus e é responsável pelo site www.oscardambrosio.com.br