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Amem a Mim, Amém!

Amem a Mim, Amém!
28/08/2020

Muitas se perguntam de que maneira as artes podem contribuir para que tenhamos um mundo melhor. O desafio não é simples e apresenta múltiplas facetas. Para alguns, a arte deve evitar o engajamento; para outros, ela é engajada por natureza e isso pode ser menos ou mais explicitado de acordo com a situação.

"Amem a Mim, Amém!", imagem de Milton Takada que ilustra este post, trabalha com ricas ambiguidades. Podemos dizer que há três níveis de conversa visual. No plano do meio está o orador em seu púlpito com o rosto com o qual se apresenta à população e com o qual comunica a sua doutrina oficial das mais diversas maneiras, com sua mensagem fundamentada em algum tipo de amor divinizado.

No nível superior, aparece o mesmo ser, agora com três faces, dominante e assustador. Talvez porque o poder, religioso ou político, tenha a característica de ser exercido, por quem o detém, dentro de uma multiplicidade de visões, olhando em todas as direções, buscando agradar a muitos e podendo adaptar as falas de acordo com as circunstâncias.

No nível inferior, está a massa que ouve. Por mais que o líder fale no palco e sua voz seja múltipla, como pode ele contemplar a todos? Nesse sentido, quando alerta sobre esses aspectos da vida em sociedade, a arte parece ainda poder ter sim um papel, talvez menos poderoso do que no passado, como questionadora e formadora de opinião.

Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Coordena o projeto @arteemtempodecoronavirus e é responsável pelo site www.oscardambrosio.com.br