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Aterro

Aterro
28/08/2020

A arte pode falar de tudo. Não existe para ela tema proibido ou dificuldade insolúvel. Ela tem a capacidade de tornar todo impossível em algo possível. A imagem “Aterro”, de Ge Guevara, possui justamente essa capacidade de realizar uma denúncia com intensidade e com encantamento visual.

A utilização das cores e tonalidades é essencial para fortalecer a mensagem do tema tratado. Os personagens que aparecem, seja a mãe com o filho ou os catadores que buscam entre o lixo algo para reciclar ou reaproveitar, vivem em um estado de extrema pobreza do qual a nação deveria ter vergonha permanente.

A artista aponta que a falta de condições dignas de vida dessas pessoas é uma espécie de chorume, nome que se dá ao resíduo líquido escuro, viscoso e fétido que provém da matéria orgânica em decomposição nos aterros sanitários e atrai vetores de doenças, como moscas e roedores.,

O odor que vem do aterro criado pela artista acompanha seres humanos, cães e urubus que consomem restos da sociedade que as esmaga. Ao fundo da obra, um caminhão deposita mais lixo, anunciando que o processo continua, tornando estarrecedor pensar que a imagem de Ge Guevara não é o documento de um passado a lembrar, mas de um presente a enfrentar.

Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Coordena o projeto @arteemtempodecoronavirus e é responsável pelo site www.oscardambrosio.com.br