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diárias de bordo

O sagrado dos retalhos

O sagrado dos retalhos
25/08/2020

Trabalhar com a costura de retalhos e um processo que lida com a construção de si mesmo e do mundo. A partir dessas relações, é erguido um castelo mental e plástico em que é necessário fazer escolhas permanentes de cores e formas em função daquele objetivo que se tem em mente.

Trata-se de um processo muito mais complexo do que muitos imaginam em um primeiro momento, pois cada seleção de material indica uma direção. O desafio é canalizar essa energia e as propostas estéticas para onde se deseja caminhar. Surge então o estilo de cada um e a percepção de mundo que leva a diversas interpretações.

Ao realizar a sua imagem do Bumba-meu-boi, Vânia Cardoso traz um pensar sobre essa dança folclórica, que também, como a maioria das manifestações culturais brasileiras, reúne elementos multiculturais. Tem-se a celebração do renascimento do boi, milagre dentro da tradição católica, mas quem o realiza é um pajé indígena ou curandeiro de matriz africana.

O uso de retalhos e as fitas penduradas promovem um diálogo entre a artista de Socorro, SP, e uma de suas referências, o sergipano Bispo do Rosário. Ambos trabalham com a verticalidade e os elos com o sagrado. Têm ainda em comum o conceito de lidar com uma sacralidade que fascina, principalmente por ser originária dos elementos simples do dia a dia.

Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Coordena o projeto @arteemtempodecoronavirus e é responsável pelo site www.oscardambrosio.com.br