Fantasma do lar
A violência contra crianças é um absurdo e precisa ser combatida. A violência sexual contra crianças é um capítulo à parte e necessita sempre ser denunciada com veemência, pois, além dos casos que chegam à mídia, existem aqueles que, de maneira silenciosa, ocorrem e não são punidos, o que reproduz um modelo perverso que interrompe o fluir de inúmeras vidas.
A obra “Fantasma do Lar”, da artista visual Ge Guevara, traz uma interpretação que nos ajuda a pensar diversos aspectos da questão. O ingênuo tom rosa das paredes e a placa “Lar Doce Lar” pendurada não escondem a sombreada figura assustadora que se levanta sobre a vítima, cujo pranto interno e externo de dor escorre pela blusa e pela alma.
As bonecas são as únicas testemunhas de atos pervertidos que deixam marcas físicas e psicológicas que podem ocorrer com crianças de qualquer cor ou classe social. Essas ações monstruosas infelizmente são mais frequentes do que se imagina e, ao que se sabe, com o confinamento social, a violência dentro das casas, em todos os aspectos, aumentou.
A obra de Ge Guevara cristaliza o assunto para que não deixe de ficar em pauta. A violência sexual contra crianças ganha manchetes de jornais impressos e televisivos e das redes sociais em casos isolados, mas não pode ser tratado esporadicamente. A questão é grave – e a arte, como mostra esta pintura, pode ajudar para que não caia no esquecimento.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Coordena o projeto @arteemtempodecoronavirus e é responsável pelo site www.oscardambrosio.com.br