A nossa vida é uma junção de retalhos para a qual atribuímos um sentido. Esse tipo de reflexão costuma ser muito ligada ao poema “Sou Feita de Retalhos”, atribuído muitas vezes por equívoco a Cora Coralina (1889 – 1985), cujo aniversário de nascimento é dia 20/8. A autoria, porém, é de Cris Pizziment, por ela publicado no seu facebook, em 2013.
Na obra da artista visual Rosângela Politano, de Socorro, SP, evidencia-se o trabalho da arte de costurar retalhos com a mais importante, que é a de encontrar-se nos outros pedaços para compor o próprio tapete da existência. Torna-se assim essencial nessa caminhada entender a humildade de cada passo a ser dado.
Nesse aspecto, a obra de Cora Coralina, que só obteve grande reconhecimento público quando já era idosa, principalmente graças aos elogios de Carlos Drummond de Andrade, em 1980, dialoga com o poema de Cris e com a tela de Rosangela no sentido de entenderem a arte como uma expressão da vida que se realiza pela troca de experiências.
Chamada pelo poeta mineiro de “Diamante goiano”, Cora, na colcha de retalhos pintada por Rosangela Politano, está colocada ao lado de Cris, mostrando que todas integram a mesma festa da arte, uma densa e bela caminhada existencial em que se busca, pela soma e composição de fragmentos, ordenar internamente a aparente desordem universal.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Coordena o projeto @arteemtempodecoronavirus e é responsável pelo site www.oscardambrosio.com.br