Arte em tempo de coronavírus (572)
O que leva um artista a continuar na sua produção? O que o motiva a prosseguir na sua caminhada mesmo quando aparentemente as situações existenciais são contrárias? Seria uma força sobre-humana que podemos chamar de paixão? Como, perante um momento como este de crise causada pela pandemia, as mãos inquietas continuam buscando pinceis?
Ao se observar a obra do artista visual Carlos Gomes que ilustra este post evidencia-se exatamente que a arte, talvez como em poucos momentos da recente história brasileira, pode ser uma resposta para diversas perguntas existenciais. O trabalho traz um amálgama de cenas que vão de um grito desolador a figuras deitadas ou em posição de desespero.
A grande questão que a obra nos coloca está na capacidade humana de prosseguir apesar de tudo. As cores rebaixadas atenuam a dramaticidade das cenas retratadas e contribuem para a reflexão, pois, no lugar de um choque cromático, temos um impacto visual sobre um mundo que é muito difícil de reconhecer.
Muita coisa mudou em pouco tempo. E ainda não há certeza da direção que o mundo tomará. Fica, sim, em obras como esta de Carlos Gomes, a convicção de que a COVID-19 nos deixa cicatrizes difíceis de mensurar. O presente quadro é uma delas. Toca nosso raciocínio e nosso coração e nos leva a perguntar sempre a razão de permanecermos vivos.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Coordena o projeto @arteemtempodecoronavirus e é responsável pelo site www.oscardambrosio.com.br
