O isolamento imposto pela quarentena em todos os cantos do planeta trouxe as mais variadas reações. Alguns atravessaram um mergulho interior que os levou a revisitar valores; outros entraram em processos depressivos, assustados com esse confronto com si mesmos e com a solidão.
Houve também aqueles que começaram a olhar o seu entorno de uma outra maneira. Sem poder sair para pintar outros ambientes ou tomar pessoas como modelo, o espaço da casa ganhou novas visualidades. Tornou-se o espaço de pesquisa e de vislumbrar novas maneiras de se relacionar com um local conhecido, mas com muito mais a conhecer e reconhecer.
Ilan Parienté, de Sceaux, França, começou a olhar atentamente para o seu redor e passou a desenhar plantas, colocando-as, por exemplo, sobre uma cadeira. O resultado ganha ares misteriosos, pois, curiosamente, os vegetais se tornam humanizados. O efeito é conseguido também pelo trabalho com as cores das folhas e dos vasos, em composições harmônicas.
Tem-se assim uma nova prática do olhar. Em um ambiente que poderia ser considerado opressor e limitado, Ilan Parienté encontra a liberdade. A reclusão física propicia o voo da mente pela observação cuidadosa daquilo que estava próximo, mas que parecia distante. Essa forma de dialogar com a casa pode ser uma aprendizagem do isolamento social.
Esta obra faz parte da Coletânea do Projeto Dias de Reclusão.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Coordena o projeto @arteemtempodecoronavirus e é responsável pelo site www.oscardambrosio.com.br