A capacidade de uma imagem condensar infinitos pensamentos tona as artes visuais um portal de interpretações. Quando se olha para um trabalho como “Sertão”, de Rosa, de Natal, RN, estamos perante uma autêntica aula de Nordeste, principalmente nas questões sociais que a região apresenta.
Além das figuras humanas retratadas, o que chama muito a atenção desde o primeiro olhar é a casa desequilibrada. O uso de ocres e amarelos acentua a importância da terra e dá uma dramaticidade que ganha um tom de denúncia. Realizada a partir de uma reportagem na televisão do jornalista Caco Barcellos sobre fome no Piauí, o trabalho comove.
Está tudo ali, desde a mulher com uma cruz na mão como índice de religiosidade inabalável, apesar de tudo o que ocorre ao seu redor, até a presença de uma personagem, junto à porta, que cobre o rosto. O crânio pendurado da rês acentua essa atmosfera de falta de água e de comida, mas de resistência permanente contra a seca, a fome e a morte.
Uma obra como esta faz refletir sobre um problema que está muito além de uma reportagem ou de uma obra de arte específica. Trata-se de uma questão estrutural que acompanha o país há gerações e que a arte, com seu poder de interpretar o mundo, nos manda seus alertas. Que obras como a de Rosa sejam mais vistas e tenham seus apelos ouvidos.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Coordena o projeto @arteemtempodecoronavirus e é responsável pelo site www.oscardambrosio.com.br