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Arte em tempo de Coronavírus (23)

Arte em tempo de Coronavírus (23)
04/04/2020

Poucas imagens são tão marcantes em termos de privação da liberdade como a de um pássaro em uma gaiola. Ver uma ave limitada de sua capacidade de voar logo traz a analogia de uma pessoa privada de sua capacidade de pensar, de criar e de interpretar, características humanas essenciais para construir um futuro melhor.

Quando a artista Carolina Saidenberg coloca um pássaro dentro de uma redoma, obra criada dentro do atual momento de isolamento social recomendado pelas a organizações de saúde para combater o coronavírus e a disseminação da COVID-19, ganha força a ideia de que pássaros e mentes são feitas para ganhar o espaço.

O pássaro da obra remete ainda à célebre cena bíblica em que Noé recebe justamente de uma ave, com um galho no bico, o sinal de que existe terra próxima, ou seja, que as águas do Dilúvio baixaram e que em breve será possível chegar a um porto seguro.  Olhar para esse símbolo de esperança anima.

O sentimento é de que dias melhores podem – e devem – ser (a)guardados mesmo nos piores momentos. Existe, tanto no sinal recebido por Noé, assim como no mito grego, em que a tristemente célebre caixinha de Pandora, ao ser aberta, espalhou os males do mundo, mas guardou dois olhinhos verdes de esperança, a certeza que dias melhores estão por vir.

Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.