O confinamento é uma espécie de redoma. Ela nos protege de algo, mas também nos leva para dentro de nós, em uma prática que nem todos estamos habituados ou preparados a praticar. Sair fortalecido e saudável desse processo é mais um desafio em tempo de coronavírus. A COVID-19 nos aprisiona, mas, sob certo aspecto, poderá libertar.
O trabalho de Carolina Saidenberg neste post evoca referências de nossa cultura ocidental que se acumulam e multiplicam. A maçã traz, é claro, sempre, a ideia do pecado original, mas também é o fruto aparentemente saboroso que a Bela Adormecida vai morder antes de seu sono, do qual apenas irá acordar com o beijo do Príncipe Encantado.
E a redoma também nos faz lembras da célebre flor, em “A Bela e a Fera”, cujas pétalas cairão progressivamente até que a maldição se realize por completo, a não ser que o Príncipe, transmutado em Fera, receba o beijo redentor pelo de “amor verdadeiro”. E na delicadeza de ver a essência lindeza interna do aparente externo feio que o milagre do amor se realiza.
Em tempos de quarentena, a pergunta é quando virá o beijo do amor verdadeiro que desperta da maldição? A Bela Adormecida recebe o seu, assim como a Fera. Ambos se salvam e vivem felizes para sempre. Nós, humanos, não temos “para sempre”. Nossa finitude está posta, mas a consciência social e a dedicação dos profissionais de saúde alertam que ela pode ser adiada.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.