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Carlos Torres

Carlos Torres

Talento vitorioso

 
  O artista primitivista Carlos Torres define a si mesmo como um “pintor vitorioso”. É, de fato, o que se conclui ao conhecer o seu trabalho e a sua vida mais de perto. Nascido em Vitória do Santo Antão, Recife, PE, em 17 de julho de 1950, chegou a Osasco (SP), em 1972 e, dois anos depois, sofreu um acidente de trabalho na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos de Osasco, sendo obrigado a amputar a perna direita, passando então a usar prótese e muletas.
  As dificuldades estiveram presentes em sua vida, mas a pintura arte tornou-se um caminho de continua busca de aperfeiçoamento. Torres estudou artes plásticas durante 12 anos na Escola Especial da Lapa (SP), no Teatro de Barueri (SP) e na Escola de Arte Cesar Antonio Salvi e com Laura Pagliarini, em Osasco (SP).
  Dessa vivência com a arte e da sua intuição e sensibilidade, resultaram obras de arte genuinamente primitivistas na sua delicadeza. Não há nelas a pretensão que caracteriza alguns representantes do estilo, mas um frescor próprio daqueles que colocam a sua alma na ponta do pincel e na seleção das cores.
  Um exemplo é o quadro O cavalo de Sarah e Talita. A preocupação do artista está longe do academicismo e da obediência a padrões consagrados de estética ou de proporção. O seu maior compromisso é com a própria capacidade de desenvolver o tema que decidiu retratar.
Nesse sentido, a imagem do cavalo surge imponente na tela, em delicado marrom. A grama verde e o céu azul, assim como as duas árvores laterais que compõem a passagem associam-se à cerca colocada, em branco, pouco abaixo do centro do quadro. A obra de arte instaurou assim a sua própria ordem, que brota de suas relações internas.
A suavidade do quadro consegue assim emocionar o observador pela sua singeleza e justeza de distribuição de elementos. Casado, três filhos, Carlos Torres é um vitorioso pela forma como vê a realidade e a transforma em arte, já exposta em cidades como Carapicuíba e Osasco e que integra o acervo de repartições públicas de várias cidades brasileiras, como a própria Osasco e Cotia.
  Outro exemplo do encanto que a arte de Carlos Torres propicia pode ser encontrado na tela em que toma a cidade de Veneza como ponto de partida. A visão que ele nos oferece difere – e muito – daquela que a arte acadêmica pode e deseja propiciar. Seu talento está em dar nova vida a uma passagem já conhecida. Ele faz isso pelo uso amadurecido das cores e pela intensa poeticidade dos elementos da composição.
  Carlos Torres constitui assim um digno expoente da arte primitivista nacional, aquela que não se ensina, mas que se pratica em numerosos recantos do País. A sua principal característica reside justamente na habilidade de transportar para a tela sinceridade existencial com bom gosto e domínio técnico. O artista pernambucano radicado em Osasco faz isso com a lúcida e delicada simplicidade de um talento vitorioso.