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Canato

Canato

O corpo como objeto plástico

O grande enigma da arte está em notar a capacidade técnica de um criador perante aquilo que ele se propõe a fazer. Visualizar a obra de Canato proporciona exatamente essa sensação. Está ali um pintor ciente de seu ofício, que trabalha o corpo humano não só como um ser físico, mas, acima de tudo, como objeto plástico.
   Os nus que coloca em suas telas, expostas na Mercearia São Roque, em São Paulo, SP, revelam o poder de feitura na tela. De pequenas proporções, cada obra está marcada por um processo mental que ultrapassa a sensualidade ou a sexualidade das imagens.
O que se vê é um jogo de cores e de planos, em que a pintura nos fundos é feita de modo a não perder o foco daquilo que domina a centralidade visual:  a mágica da anatomia, com suas infinitas possibilidades de expressão e de comunicação, numa espécie de teatro feito com pintura.
  As figuras de Canato estão justamente no tênue limite entre a prática cotidiana do fazer com perícia e a ascensão de sentimentos que cada imagem desperta. Saber utilizar jogos de luz é um desafio que precisa ser gradativamente dominado.
  Técnica, percepção da realidade aparente, consciência de que a pintura expressa uma visão de mundo, prática incessante e intensa disciplina são atributos presentes em Canato na sua atitude de mesclar a habilidade inata com o conhecimento adquirido na prática pictórica. 
  O treinamento do olhar e a aprendizagem contínua geram um conjunto marcado pela habilidade desenvolvida ao longo dos anos no lidar com linhas, planos, massas, espaço, movimento e cor, num exercício que leva a uma maior capacidade de questionar o que se vê.
  Nascido em São Paulo, em 1965, formado em Artes Plásticas e Comunicação Visual pela Universidade Mackenzie, Canato, que freqüentou o atelier de João Rossi
desenvolvendo pesquisas no âmbito da gravura e da aquarela, recebeu, em 2001, a Grande Medalha de Ouro no 52° Salão Paulista de Belas Artes, justamente pela apresentação de uma linha visual que toma o corpo como assunto para discutir o fazer da pintura.
Seu objetivo é encontrar técnicas e poéticas que expressem a devoção ao corpo como uma materialidade a ser desvendada. O ato de construir as imagens na tela gera um questionamento sobre o próprio poder da arte de representar não só o corpo, mas qualquer imagem, emoção ou sentimento.
Canato vê o corpo como ponto de partida de uma jornada que tem como chegada a sensibilidade. Ele nos transporta para uma realidade onde a pintura reina soberana em seu poder de dar a cada instante um valor único, visceral e pleno da sinceridade plástica que soma o talento à visão poética do mundo.