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Black Linhares

Black Linhares

A cor visceral

Entre os mistérios que rondam o mundo da arte, um dos principais é o uso da cor. Saber como e onde utilizá-la numa tela corresponde a ingressar num universo misterioso, em que os excessos ou as ausências podem comprometer o resultado final, gerando uma sensação de que algo a mais poderia ser feito ou que foi realizado sem saber o momento de parar.
  A pintura de Black Linhares tem na cor o seu grande impacto. A maneira como delimita as áreas revela um progressivo jogo visual em que os elos entre o fundo e as formas se articulam de maneira geralmente encantadora. Assim, um vaso de flores deixa de ser um objeto encontrado no mundo real para se tornar um referencial plástico.
  Isso significa que se passa a olhar as pinturas de Black por aquilo que elas têm de melhor: seus diálogos constitutivos. As áreas marcadamente preenchidas fornecem  pistas para construir um pensamento sobre uma pintura na qual a intuição possui um papel fundamental, pois há nele, mais do que um estrategista da pintura, uma antena parabólica a estabelecer elos entre seu estado interior e o do seu entorno.
  Esse raciocínio é desenvolvido nas flores, árvores, peixes, casas e pessoas. De uma pintura mais gestual, marcada por cores mais sombrias no começo da carreira, houve a passagem para o momento atual, caracterizado pela exploração da cor como elemento fundamental na composição das imagens. O visceral do movimento do pincel passou para a articulação das cores numa jornada, como todas no mundo da arte, de destino incerto, mas, no caso de Black, sempre lírico.