A arte da cor
Ao se olhar as esculturas de Bia Doria, muito se fala sobre as formas presentes nas madeiras descartadas ou mortas que são o ponto de partida de seu trabalho. No entanto, o diferencial de sua produção está muito menos naquilo que se pode tocar e muito mais naquilo que se pode ver.
O reino da artista é o da cor. Ao empregar preto, vermelho e branco – e, mais recentemente, o púrpura – realiza uma releitura da natureza, dando ao seu trabalho uma dimensão demiúrgica. É, assim, no ato de saber reconhecer as colorações que a natureza pede que exercita o maior talento de um artista plástico: o de fazer escolhas.
De fato, as atividades de desenhar, pintar e colorir demandam dois processos. Por um lado, selecionar a cor a ser utilizada; por outro, verificar se as peças serão monocromáticas ou se haverá a combinação de tonalidades. Trata-se de um jogo em que raízes, troncos e nódulos renascem fortalecidos.
O trabalho plástico de Bia Dória ressuscita a natureza. Além de saber ver, higienizar e preservar, ela seleciona e dá cor. Surge assim uma nova visão de mundo, em que cheios e vazios, linhas e cores dialogam para criar um planeta pessoal, que, embora remeta ao nosso, é pleno do encantamento que o domínio das cores propicia.